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Andar a pé no Brasil é sinônimo de pobreza

Entrevista com Eduardo Daros – presidente da Associação Brasileira de Pedestres (ABRASPE)

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A cultura, as políticas públicas e a história são alguns fatores que permitem entender a diferença do trânsito para os pedestres no Brasil em comparação a outras localidades. Para aprofundar o tema, a Perkons ouviu brasileiros residentes na Espanha e na Dinamarca, o presidente da Associação Brasileira de Pedestres, Eduardo Daros, e a especialista em trânsito da Perkons, Maria Amélia Franco. 

Brasil
Apesar de seus 8,5 milhões de km2 e uma população que se aproxima dos 200 milhões de habitantes, o Código de Trânsito Brasileiro – CTB não oferece flexibilidade para sua adequação às necessidades estaduais e municipais – é o que pensa o presidente da Associação Brasileira de Pedestres (ABRASPE), Eduardo Daros. “Sua rigidez torna impossível se cumprirem todas as obrigações e direitos nele previstos em certos locais, tornando-os letras mortas e gerando um clima de impunidade”, diz.
O engenheiro especializado em trânsito fala sobre a falta de prioridade aos transeuntes até mesmo no planejamento da cidade. “Os espaços para pedestres regrediram. É só compararmos as regiões históricas das cidades com as novas localidades. Um exemplo é a Ponte Estaiada, em São Paulo. A estrutura é destinada restritivamente a veículos automotores. Ou seja, o cidadão que anda a pé tem de permanecer continuamente alerta, seja pelos riscos de acidentes que corre nas calçadas e travessias, seja pelos riscos de assalto por bandidos”, pontua.
O perfil do motorista brasileiro, segundo Daros, se confunde com o do cidadão caricato: “Ele é ignorante em relação a seus direitos e obrigações e está sempre pronto a levar vantagem nos conflitos de trânsito. Seu comportamento espontâneo na ausência de risco de multas é condicionado pela lei do mais forte, respeitando somente os que podem lhe causar danos. E, como o pedestre é frágil, acaba ignorado…”, analisa.
O presidente da ABRASPE alerta para os perigos da falta de gentileza e empatia no trânsito. “A convivência entre motoristas e pedestres é sempre tensa e perigosa. Basta observar atentamente a atitude de nossos motoristas nas rodovias e nas avenidas congestionadas”, e pondera que esse mesmo motorista atravessará a rua em qualquer ponto correndo, fora da faixa, debaixo da passarela ou, no último segundo em que o sinal de pedestre proíbe sua travessia.
Mas não é apenas o condutor que tem comportamento condenável no Brasil. Eduardo Daros fala que a atitude de “querer tirar vantagem” está presente mesmo no imaginário de quem anda a pé: “O pedestre se comporta mal sempre que pode e acaba se acidentando. O respeito à faixa de pedestre tem sido a tônica das campanhas desenvolvidas em algumas cidades, em especial na cidade de São Paulo que tem colhido bons resultados. Como sempre, o respeito à lei ainda está longe de ser algo internalizado pelo brasileiro”, condena.
E exemplifica, “no caso do pedestre, ele simplesmente avalia se tem condições de burlar as regras que lhe são impostas pela lei sem ser atropelado. Precisamos transformar em hábito dar preferência ao pedestre não só na faixa. Daí, a necessidade de encontrar formas viáveis de punir também o pedestre para ele incorporar as regras em seu comportamento”. Daros sugere criar um cadastro de adolescentes e jovens e nele registrar a perda de pontos como se faz com motoristas infratores. “Completados mais de 20 pontos num ano, o direito de conseguir sua Carteira Nacional de Motorista seria postergado em um ano. Seguramente, uma discussão sobre esse assunto poderá trazer novas ideias”.
Sobre o papel da educação, o entrevistado confirma o discurso da necessidade de iniciar o trabalho com as crianças: “É isso que vai desencadear a mudança de valores e de comportamento. Até os 9, 10 anos de idade, dificilmente a criança tem condições de entender o que é certo e errado no trânsito. Essa capacidade somente surge no início da adolescência. Nesse ciclo, os números são associados a coisas concretas e não a funções abstratas”, discorre.
Quando perguntado sobre porque o brasileiro não percorre mais trajetos a pé, Eduardo é enfático: “não temos o hábito por ignorância, medo e porque não queremos ser vistos como alguém que pertencente a um nível social-econômico menor. Com o afastamento da classe média do transporte público pelo uso exagerado do automóvel particular esse conceito retornou com grande força. Estar a pé seria no mínimo sinal de pobreza”, conclui.

Crédito: Eduardo Daros

Eduardo Daros: “A convivência entre motoristas e pedestres é sempre tensa e perigosa”

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